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Você Sabe Usar o Portage? Descubra o Que Ninguém Te Contou

Portage não é “modinha” nem só mais um protocolo da Educação Especial. Logo, quando você entende de verdade o portage, ele deixa de ser uma ficha para preencher e passa a ser um mapa do desenvolvimento infantil.

E é justamente aqui que muita gente se perde: fala sobre portage, cita o nome, comenta que “usa na escola”, mas não segue o passo a passo nem aproveita o potencial desse inventário.

Por isso, neste blog, vamos conversar sobre o que é o Inventário portage Operacionalizado (IPO), como ele foi adaptado para a realidade brasileira, como o portage ajuda a montar um PEI que realmente funciona e muito mais!

E claro, tudo com um foco: mostrar como esse protocolo pode transformar observação em ação pedagógica. Vamos lá?

O que é o Portage, afinal?

O Portage nasceu nos Estados Unidos, na cidade de Portage, como uma forma de apoiar famílias e professores na compreensão do desenvolvimento infantil. Desde o começo, a ideia foi clara: não se trata apenas de identificar dificuldades, mas de enxergar o potencial de cada criança.

Mais tarde, esse instrumento ganhou uma versão brasileira, o Inventário Portage Operacionalizado (IPO), publicada em 2001 pelas psicólogas Lúcia Cavalcanti Williams e Ana Lúcia Rossito Aiello.

  • Lúcia participou da adaptação do portage para a nossa realidade, definindo critérios e procedimentos de observação e intervenção.
  • Ana Lúcia trabalhou na operacionalização do instrumento, detalhando critérios e exemplos práticos que tornaram o portage aplicável para educadores e outros profissionais.

Com essa adaptação, o portage ficou ainda mais prático. Tudo vem descrito:

  • o que observar,
  • como registrar,
  • e o que significa cada comportamento.

Assim, quando você usa o portage, você não está “testando” a criança, e sim conhecendo de verdade quem ela é e como se desenvolve.

Portage: um olhar completo para o desenvolvimento

O portage avalia cinco grandes áreas do desenvolvimento infantil:

  • Cognição
  • Motricidade
  • Linguagem
  • Socialização
  • Autocuidados

Desse modo, isso significa que você não olha apenas para o que aparece na escrita, na leitura ou na fala. Ou seja, você enxerga o quadro completo: como a criança pensa, se expressa, interage, se move e se cuida.

E aqui está um ponto essencial: o portage mostra que desenvolvimento é processo, não rótulo. Ou seja, às vezes a criança ainda não realiza determinada ação sozinha, mas já está no caminho: tenta, explora, busca ajuda. Isso, por si só, já é uma informação extremamente valiosa para o planejamento pedagógico.

Além disso, quando o professor compreende e aplica o portage com esse olhar, ele deixa de enxergar apenas “atrasos” e passa a perceber:

  • pequenas conquistas,
  • habilidades em construção,
  • e pistas importantes para o próximo passo.

É como se o portage abrisse uma janela para o que realmente está acontecendo com a criança – e ajudasse a transformar observação em ação dentro da sala de aula.

Portage Operacionalizado: o passo a passo que quase ninguém segue

Muita gente descreve o portage, mas pouca gente colhe resultados consistentes. Na prática, isso acontece porque quase ninguém segue o passo a passo proposto pelo Inventário Portage Operacionalizado.

Sendo assim, o portage não foi feito para ser aplicado como prova. Portanto, ele é um processo de observação contínua e intencional. Vamos ver esse passo a passo?

1. Observar no contexto natural

O primeiro passo é observar a criança em seu ambiente real como por exemplo:

  • na brincadeira,
  • na hora do lanche,
  • na fila,
  • nas rodas de conversa,
  • nas atividades do dia a dia.

É ali que aparecem os comportamentos espontâneos ou seja: o que ela já faz sozinha, o que tenta fazer com ajuda e o que ainda não tenta.

Além disso, quando alguém “aplica” o portage chamando a criança na mesa e fazendo ela repetir tarefas sob pressão, o instrumento perde o sentido. Sendo assim, o protocolo não mede desempenho em situação artificial; ele observa funcionalidade na rotina.

2. Registrar com qualidade

O segundo passo é a qualidade do registro. Dessa forma, não basta marcar “sim”, “não” ou “com ajuda”. É necessário registrar por exemplo:

  • o contexto da situação,
  • o que motivou a ação,
  • que tipo de apoio foi dado,
  • como a criança reagiu,
  • que sinais de intenção apareceram.

Por exemplo: uma criança que ainda não fala, mas aponta, olha, gesticula e tenta se comunicar com o corpo já está usando linguagem.

Portanto, são esses detalhes que deixam o registro pedagógico rico – e é exatamente isso que o portage operacionalizado ensina a fazer.

3. Comparar para enxergar evolução

O terceiro passo é revisitar os registros. O portage não é um instrumento de “uso único”. Logo, ele foi pensado para acompanhamento periódico. Além disso, o comparar registros, você percebe avanços que, muitas vezes, passariam despercebidos:

  • o aluno que não mantinha contato visual agora olha quando é chamado;
  • a criança que empilhava dois blocos agora constrói uma torre com cinco;
  • quem não participava das rodas, agora já se aproxima e observa.

Por isso, cada pequena conquista é um indicador real de progresso.

4. Transformar observação em ação

Por fim, o passo que dá sentido a todo o processo: planejamento pedagógico. O portage não foi criado para arquivar dados, mas para orientar ações. A partir das observações, o professor:

  • define metas,
  • ajusta estratégias,
  • seleciona atividades alinhadas às necessidades da criança.

Se a criança ainda não usa talheres com autonomia, o professor pode planejar atividades que estimulem coordenação fina. Logo, ela tem dificuldade para esperar a vez, entram em cena brincadeiras de revezamento e jogos com turnos.

Além disso, o grande diferencial do portage operacionalizado é que ele traz cada habilidade descrita com:

  • o comportamento esperado,
  • sugestões de materiais,
  • e critérios claros para considerar a conquista.

Nada é “de olho”; tudo é observável e mensurável. Por isso, quando o professor segue esse ciclo – observar, registrar, comparar e planejar – o trabalho deixa de ser um “achismo” e passa a ser um acompanhamento estruturado.

Quem pode aplicar o Portage?

Essa é uma dúvida muito comum: “Quem pode aplicar o Portage?”

Ao contrário do que muitos imaginam, o portage não é exclusivo de uma única profissão. Desse modo, ele foi pensado justamente como uma ferramenta acessível, que integra diferentes olhares sobre a infância. As pesquisadoras brasileiras que trabalharam com o portage destacam que qualquer profissional que atue com crianças pode utilizá-lo, desde que tenha formação e orientação adequada.

Isso inclui, por exemplo:

  • professores,
  • psicopedagogos,
  • psicólogos,
  • fonoaudiólogos,
  • terapeutas ocupacionais,
  • entre outros profissionais da infância.

Por quê? Porque ele é um instrumento de observação, e não um exame clínico. Desse modo, no contexto escolar, o professor pode:

  • acompanhar o desenvolvimento,
  • registrar avanços,
  • perceber pequenas conquistas,
  • planejar atividades mais assertivas,

Mas, é importante dizer que o professor pode fazer isso, sempre respeitando seus limites de atuação – sem emitir diagnóstico. Além disso, outra pesquisadora importante, Cecília Kátia Formiga, estudou a aplicabilidade do portage em diferentes contextos e ressaltou que ele permite um olhar integrado para a criança, conectando:

  • cognição,
  • linguagem,
  • socialização,
  • motricidade,
  • autocuidados.

Assim, cada profissional contribui com o seu olhar, sem se sobrepor ao outro. Na prática, o Portage funciona como uma linguagem comum entre área clínica e educação. Ou seja, quando o professor compartilha seus registros com outros profissionais, todos passam a trabalhar a partir de uma base concreta, organizada e observável.

Portage e TEA: como aplicar com alunos autistas?

Quando falamos em portage para alunos com TEA, é essencial reforçar: ele não é uma prova, mas uma forma estruturada de observar a criança na rotina. O desenvolvimento no TEA nem sempre segue uma linha contínua. Por isso, muitas vezes, o aluno avança muito em uma área (como motricidade) e precisa de mais apoio em outra (como linguagem ou interação social).

O portage ajuda o professor a responder perguntas como por exemplo:

  • Em que ponto do desenvolvimento esse aluno está agora?
  • O que ele já domina?
  • O que está em construção?
  • O que ainda precisa de estímulo intencional?

Na prática:

  1. Você observa o aluno em momentos espontâneos: brincadeiras, interações, atividades simples.
  2. Registra o que ele faz sozinho, o que realiza com apoio e o que ainda evita.
  3. Organiza esses registros dentro das áreas do portage: socialização, linguagem, motricidade, cognição e autocuidados.

Desse modo, você constrói um mapa do desenvolvimento, em vez de um rótulo.

Portage, ABA e “cusps comportamentais”: por onde começar?

Um estudo recente da pesquisadora Valéria Beatriz Machado, da UNESP (2023), analisou o portage em diálogo com a Análise do Comportamento Aplicada (ABA). O objetivo foi identificar quais habilidades do protocolo são mais importantes para o início da intervenção.

Portanto, essas habilidades foram chamadas de “cusps comportamentais”: comportamentos que, quando a criança aprende, abrem portas para muitos outros aprendizados. Sendo assim, entre eles, destacam-se três habilidades fundamentais para crianças com TEA:

  • Imitar ações
  • Seguir instruções
  • Manipular objetos

Quando o aluno aprende a imitar, ele passa a aprender observando. E quando ele aprende a seguir instruções, ganha mais autonomia para participar das atividades, logo, aprende a manipular objetos, amplia o contato com o ambiente e com as pessoas.

Ou seja, o portage pode ajudar o professor a decidir por onde começar: quais habilidades priorizar para que os próximos passos do desenvolvimento aconteçam com mais fluidez.

Como o Portage ajuda a construir um PEI que funciona?

O portage é uma das melhores bases para montar o PEI – Plano Educacional Individualizado. Ou seja, em vez de criar metas soltas, o professor parte de dados reais:

  • o que a criança já faz,
  • o que faz com ajuda,
  • o que ainda não realiza.

Ao aplicar o portage com atenção, o professor recebe um “retrato” detalhado do aluno – em cognição, linguagem, socialização, motricidade e autocuidados. A partir disso, as metas do PEI ficam:

  • claras,
  • possíveis,
  • mensuráveis.

Por exemplo:

  • Se o portage mostra que a criança ainda precisa de apoio para se vestir, isso vira uma meta de autonomia.
  • Se ela responde a gestos, mas ainda não se comunica verbalmente, o foco passa a ser ampliar as formas de comunicação.
  • Se participa de atividades curtas e perde o foco rapidamente, é possível planejar metas de atenção e permanência.

O segredo é simples: O PEI nasce da observação feita com o portage. Logo, nada é “inventado”; cada meta surge a partir de uma habilidade observada. Além disso, o portage ajuda a manter o PEI vivo. Ou seja, quando o professor retoma os registros após algumas semanas, consegue:

  • verificar o que avançou,
  • ajustar o que ainda não evoluiu,
  • redefinir prioridades.

Assim, o PEI deixa de ser um documento engavetado e se torna um instrumento real de inclusão e progresso.

Conclusão

Se você chegou até aqui, provavelmente já percebeu o quanto o portage pode transformar o seu olhar para o desenvolvimento das crianças e fortalecer a inclusão na prática.

Por isso, se você busca conhecimento baseado em evidências científicas para transformar sua prática em sala de aula, conheça a Pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista – TEA da Rhema Neuroeducação. 

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