Você Sabe Usar o Portage? Descubra o Que Ninguém Te Contou
Portage não é “modinha” nem só mais um protocolo da Educação Especial. Logo, quando você entende de verdade o portage, ele deixa de ser uma ficha para preencher e passa a ser um mapa do desenvolvimento infantil.
O que você vai encontrar neste artigo:
- O que é o Portage, afinal?
- Portage: um olhar completo para o desenvolvimento
- Portage Operacionalizado: o passo a passo que quase ninguém segue
- Quem pode aplicar o Portage?
- Portage e TEA: como aplicar com alunos autistas?
- Portage, ABA e “cusps comportamentais”: por onde começar?
- Como o Portage ajuda a construir um PEI que funciona?
- Conclusão
E é justamente aqui que muita gente se perde: fala sobre portage, cita o nome, comenta que “usa na escola”, mas não segue o passo a passo nem aproveita o potencial desse inventário.
Por isso, neste blog, vamos conversar sobre o que é o Inventário portage Operacionalizado (IPO), como ele foi adaptado para a realidade brasileira, como o portage ajuda a montar um PEI que realmente funciona e muito mais!
E claro, tudo com um foco: mostrar como esse protocolo pode transformar observação em ação pedagógica. Vamos lá?
O que é o Portage, afinal?

O Portage nasceu nos Estados Unidos, na cidade de Portage, como uma forma de apoiar famílias e professores na compreensão do desenvolvimento infantil. Desde o começo, a ideia foi clara: não se trata apenas de identificar dificuldades, mas de enxergar o potencial de cada criança.
Mais tarde, esse instrumento ganhou uma versão brasileira, o Inventário Portage Operacionalizado (IPO), publicada em 2001 pelas psicólogas Lúcia Cavalcanti Williams e Ana Lúcia Rossito Aiello.
- Lúcia participou da adaptação do portage para a nossa realidade, definindo critérios e procedimentos de observação e intervenção.
- Ana Lúcia trabalhou na operacionalização do instrumento, detalhando critérios e exemplos práticos que tornaram o portage aplicável para educadores e outros profissionais.
Com essa adaptação, o portage ficou ainda mais prático. Tudo vem descrito:
- o que observar,
- como registrar,
- e o que significa cada comportamento.
Assim, quando você usa o portage, você não está “testando” a criança, e sim conhecendo de verdade quem ela é e como se desenvolve.
Portage: um olhar completo para o desenvolvimento
O portage avalia cinco grandes áreas do desenvolvimento infantil:
- Cognição
- Motricidade
- Linguagem
- Socialização
- Autocuidados
Desse modo, isso significa que você não olha apenas para o que aparece na escrita, na leitura ou na fala. Ou seja, você enxerga o quadro completo: como a criança pensa, se expressa, interage, se move e se cuida.
E aqui está um ponto essencial: o portage mostra que desenvolvimento é processo, não rótulo. Ou seja, às vezes a criança ainda não realiza determinada ação sozinha, mas já está no caminho: tenta, explora, busca ajuda. Isso, por si só, já é uma informação extremamente valiosa para o planejamento pedagógico.
Além disso, quando o professor compreende e aplica o portage com esse olhar, ele deixa de enxergar apenas “atrasos” e passa a perceber:
- pequenas conquistas,
- habilidades em construção,
- e pistas importantes para o próximo passo.
É como se o portage abrisse uma janela para o que realmente está acontecendo com a criança – e ajudasse a transformar observação em ação dentro da sala de aula.
Portage Operacionalizado: o passo a passo que quase ninguém segue
Muita gente descreve o portage, mas pouca gente colhe resultados consistentes. Na prática, isso acontece porque quase ninguém segue o passo a passo proposto pelo Inventário Portage Operacionalizado.
Sendo assim, o portage não foi feito para ser aplicado como prova. Portanto, ele é um processo de observação contínua e intencional. Vamos ver esse passo a passo?
1. Observar no contexto natural
O primeiro passo é observar a criança em seu ambiente real como por exemplo:
- na brincadeira,
- na hora do lanche,
- na fila,
- nas rodas de conversa,
- nas atividades do dia a dia.
É ali que aparecem os comportamentos espontâneos ou seja: o que ela já faz sozinha, o que tenta fazer com ajuda e o que ainda não tenta.
Além disso, quando alguém “aplica” o portage chamando a criança na mesa e fazendo ela repetir tarefas sob pressão, o instrumento perde o sentido. Sendo assim, o protocolo não mede desempenho em situação artificial; ele observa funcionalidade na rotina.
2. Registrar com qualidade
O segundo passo é a qualidade do registro. Dessa forma, não basta marcar “sim”, “não” ou “com ajuda”. É necessário registrar por exemplo:
- o contexto da situação,
- o que motivou a ação,
- que tipo de apoio foi dado,
- como a criança reagiu,
- que sinais de intenção apareceram.
Por exemplo: uma criança que ainda não fala, mas aponta, olha, gesticula e tenta se comunicar com o corpo já está usando linguagem.
Portanto, são esses detalhes que deixam o registro pedagógico rico – e é exatamente isso que o portage operacionalizado ensina a fazer.
3. Comparar para enxergar evolução
O terceiro passo é revisitar os registros. O portage não é um instrumento de “uso único”. Logo, ele foi pensado para acompanhamento periódico. Além disso, o comparar registros, você percebe avanços que, muitas vezes, passariam despercebidos:
- o aluno que não mantinha contato visual agora olha quando é chamado;
- a criança que empilhava dois blocos agora constrói uma torre com cinco;
- quem não participava das rodas, agora já se aproxima e observa.
Por isso, cada pequena conquista é um indicador real de progresso.
4. Transformar observação em ação
Por fim, o passo que dá sentido a todo o processo: planejamento pedagógico. O portage não foi criado para arquivar dados, mas para orientar ações. A partir das observações, o professor:
- define metas,
- ajusta estratégias,
- seleciona atividades alinhadas às necessidades da criança.
Se a criança ainda não usa talheres com autonomia, o professor pode planejar atividades que estimulem coordenação fina. Logo, ela tem dificuldade para esperar a vez, entram em cena brincadeiras de revezamento e jogos com turnos.
Além disso, o grande diferencial do portage operacionalizado é que ele traz cada habilidade descrita com:
- o comportamento esperado,
- sugestões de materiais,
- e critérios claros para considerar a conquista.
Nada é “de olho”; tudo é observável e mensurável. Por isso, quando o professor segue esse ciclo – observar, registrar, comparar e planejar – o trabalho deixa de ser um “achismo” e passa a ser um acompanhamento estruturado.

Quem pode aplicar o Portage?
Essa é uma dúvida muito comum: “Quem pode aplicar o Portage?”
Ao contrário do que muitos imaginam, o portage não é exclusivo de uma única profissão. Desse modo, ele foi pensado justamente como uma ferramenta acessível, que integra diferentes olhares sobre a infância. As pesquisadoras brasileiras que trabalharam com o portage destacam que qualquer profissional que atue com crianças pode utilizá-lo, desde que tenha formação e orientação adequada.
Isso inclui, por exemplo:
- professores,
- psicopedagogos,
- psicólogos,
- fonoaudiólogos,
- terapeutas ocupacionais,
- entre outros profissionais da infância.
Por quê? Porque ele é um instrumento de observação, e não um exame clínico. Desse modo, no contexto escolar, o professor pode:
- acompanhar o desenvolvimento,
- registrar avanços,
- perceber pequenas conquistas,
- planejar atividades mais assertivas,
Mas, é importante dizer que o professor pode fazer isso, sempre respeitando seus limites de atuação – sem emitir diagnóstico. Além disso, outra pesquisadora importante, Cecília Kátia Formiga, estudou a aplicabilidade do portage em diferentes contextos e ressaltou que ele permite um olhar integrado para a criança, conectando:
- cognição,
- linguagem,
- socialização,
- motricidade,
- autocuidados.
Assim, cada profissional contribui com o seu olhar, sem se sobrepor ao outro. Na prática, o Portage funciona como uma linguagem comum entre área clínica e educação. Ou seja, quando o professor compartilha seus registros com outros profissionais, todos passam a trabalhar a partir de uma base concreta, organizada e observável.
Portage e TEA: como aplicar com alunos autistas?
Quando falamos em portage para alunos com TEA, é essencial reforçar: ele não é uma prova, mas uma forma estruturada de observar a criança na rotina. O desenvolvimento no TEA nem sempre segue uma linha contínua. Por isso, muitas vezes, o aluno avança muito em uma área (como motricidade) e precisa de mais apoio em outra (como linguagem ou interação social).
O portage ajuda o professor a responder perguntas como por exemplo:
- Em que ponto do desenvolvimento esse aluno está agora?
- O que ele já domina?
- O que está em construção?
- O que ainda precisa de estímulo intencional?
Na prática:
- Você observa o aluno em momentos espontâneos: brincadeiras, interações, atividades simples.
- Registra o que ele faz sozinho, o que realiza com apoio e o que ainda evita.
- Organiza esses registros dentro das áreas do portage: socialização, linguagem, motricidade, cognição e autocuidados.
Desse modo, você constrói um mapa do desenvolvimento, em vez de um rótulo.
Portage, ABA e “cusps comportamentais”: por onde começar?
Um estudo recente da pesquisadora Valéria Beatriz Machado, da UNESP (2023), analisou o portage em diálogo com a Análise do Comportamento Aplicada (ABA). O objetivo foi identificar quais habilidades do protocolo são mais importantes para o início da intervenção.
Portanto, essas habilidades foram chamadas de “cusps comportamentais”: comportamentos que, quando a criança aprende, abrem portas para muitos outros aprendizados. Sendo assim, entre eles, destacam-se três habilidades fundamentais para crianças com TEA:
- Imitar ações
- Seguir instruções
- Manipular objetos
Quando o aluno aprende a imitar, ele passa a aprender observando. E quando ele aprende a seguir instruções, ganha mais autonomia para participar das atividades, logo, aprende a manipular objetos, amplia o contato com o ambiente e com as pessoas.
Ou seja, o portage pode ajudar o professor a decidir por onde começar: quais habilidades priorizar para que os próximos passos do desenvolvimento aconteçam com mais fluidez.
Como o Portage ajuda a construir um PEI que funciona?
O portage é uma das melhores bases para montar o PEI – Plano Educacional Individualizado. Ou seja, em vez de criar metas soltas, o professor parte de dados reais:
- o que a criança já faz,
- o que faz com ajuda,
- o que ainda não realiza.
Ao aplicar o portage com atenção, o professor recebe um “retrato” detalhado do aluno – em cognição, linguagem, socialização, motricidade e autocuidados. A partir disso, as metas do PEI ficam:
- claras,
- possíveis,
- mensuráveis.
Por exemplo:
- Se o portage mostra que a criança ainda precisa de apoio para se vestir, isso vira uma meta de autonomia.
- Se ela responde a gestos, mas ainda não se comunica verbalmente, o foco passa a ser ampliar as formas de comunicação.
- Se participa de atividades curtas e perde o foco rapidamente, é possível planejar metas de atenção e permanência.
O segredo é simples: O PEI nasce da observação feita com o portage. Logo, nada é “inventado”; cada meta surge a partir de uma habilidade observada. Além disso, o portage ajuda a manter o PEI vivo. Ou seja, quando o professor retoma os registros após algumas semanas, consegue:
- verificar o que avançou,
- ajustar o que ainda não evoluiu,
- redefinir prioridades.
Assim, o PEI deixa de ser um documento engavetado e se torna um instrumento real de inclusão e progresso.
Conclusão
Se você chegou até aqui, provavelmente já percebeu o quanto o portage pode transformar o seu olhar para o desenvolvimento das crianças e fortalecer a inclusão na prática.
Por isso, se você busca conhecimento baseado em evidências científicas para transformar sua prática em sala de aula, conheça a Pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista – TEA da Rhema Neuroeducação.
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