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O famoso conflito de gerações ainda existe hoje?

Em primeiro lugar, você acredita que haja um conflito entre gerações? Certamente, em um determinado momento da vida, algumas situações podem ter surgido no que diz respeito a um choque de ideias com alguém mais jovem ou mais experiente, por exemplo. Desta forma, muitos aspectos que se referem à construção sociocultural de uma pessoa são colocados à prova. No entanto, esses questionamentos são vivenciados não somente no cenário social, ou seja, não é algo externo ao convívio familiar.

O que é geração aos olhos da pesquisa?

De acordo com Motta (2010), “em seu sentido mais plenamente sociológico, ou macrossociológico – geração, propriamente dita” está ligada a um coletivo de indivíduos que vivem em determinada época ou tempo social. Além disso, eles “têm aproximadamente a mesma idade e compartilham alguma forma de experiência ou vivência, ou têm a potencialidade para tal.”

Que mudanças estão por trás?

Neste sentido, o conflito intergeracional, termo utilizado pelos especialistas, pode ser vivenciado no contexto familiar, principalmente para quem tem filhos adolescentes. Se você é pai ou mãe de jovens, com certeza alguma questão envolvendo as diferenças entre as gerações já ficou evidente. Com isso, é preciso salientar que as formas de se comunicar e interagir com o mundo mudou drasticamente nos últimos 20 anos.

Entretanto, a impressão é que duas décadas foram condensadas a apenas uma e que as transformações vieram sem que ninguém pudesse perceber. Com efeito, as mudanças passam a ser refletidas no cenário educacional, profissional e interpessoal.

Assim sendo, falar sobre a possível existência do conflito de gerações é uma necessidade para que pesquisadores, professores, profissionais e toda a sociedade consigam debater aspectos indispensáveis. Portanto, colocar determinadas pensamentos e práticas em questão pode evidenciar o que as diferentes gerações esperam e praticam.

Existe diferença na comunicação entre os jovens e os mais velhos?

Primeiramente, a ideia de comunicação tratada aqui se refere ao contexto das ferramentas tecnológicas virtuais e digitais. Com isso, a adesão dos mais jovens aos meios providos pela internet é bem maior com relação aos mais velhos, por exemplo.

Em função dessa facilidade no manuseio de materiais voltados para esse tipo de comunicação, o conflito de gerações tende a aparecer, principalmente no quesito domínio dos instrumentos. Mesmo que haja uma tendência de facilidade por parte de crianças, adolescentes e jovens adultos com o uso das ferramentas; as pessoas mais experientes podem também se sair muito bem com essa forma de comunicação.

No entanto, a naturalidade que os mais jovens demonstram à utilização desses meios virtuais e digitais se deve ao contexto em que estão inseridos. Afinal, aquelas pessoas nascidas do ano 2000 em diante foram criadas sob a forte influência da internet. No caso dos nascidos a partir de 2010, a situação ainda é mais profunda.

Aliás, há que se ressaltar o seguinte cenário: quem nasceu em décadas anteriores precisou se adequar às novas formas de comunicação. Essas pessoas cresceram influenciadas por mídias como televisão, rádio, jornal e revista impressos. Assim, boa parte desse público precisou se adaptar e aprender a lidar com a interatividade em tempo real da internet.

Portanto, é possível que haja conflitos de geração quanto ao uso de uma comunicação mais efetiva, mas isso não significa que os mais experientes estejam ficando para trás. Por exemplo, existe uma série de cursos de capacitação para aumentar as chances dessas pessoas ao contexto digital. Com isso, eles tendem a reforçar a adaptação necessária para o uso dessas ferramentas de comunicação.

Como é o contexto educacional?

Antecipadamente, a escolarização do público mais jovem é mais extensa do que aquela presenciada entre os mais velhos. Muitas pessoas precisavam optar entre trabalhar para ajudar em casa ou estudar. Desta forma, a manutenção dos dois compromissos poderia ser impedida por conta da jornada de trabalho e dos custos da educação.

Aliás, os mais jovens puderam ser beneficiados com programas de estímulo à educação primária, assim como o acesso à capacitação técnica e ao ensino superior. Em outras palavras, há um aumento considerável de pessoas nos cursos de graduação e pós-graduação com relação ao observado em décadas anteriores.

No entanto, a situação é complexa, como afirma a pesquisadora da USP, Kimi Tomizaki. A professora explica que “a melhoria dos indicadores educacionais no Brasil, nas últimas décadas, tem conduzido a um concreto crescimento da mobilidade educacional intergeracional, ou seja, ao aumento da média de anos de escolaridade de uma geração a outra e, consequentemente, a uma redução das desigualdades educacionais formais.”

Mas Tomizaki (2018) chama a atenção para outro fenômeno. Assim sendo, a pesquisadora salienta que “a mobilidade intergeracional de educação tem sido mais significativa do que a de renda, ou seja, a aquisição de diplomas não se converte automaticamente em renda.”

Como é o contexto profissional?

Kimi Tomizaki ressalta que a tendência entre as gerações no cenário profissional será a negociação ou o conflito. Em outras palavras, a professora pondera que dependendo da situação, tanto trabalhadores mais jovens quanto os mais velhos terão de encontrar um equilíbrio, contrapondo à desigualdade observada nas condições de “estudo e trabalho a que tiveram acesso.”

Curiosamente, a junção de experiências pode vir a promover o desenvolvimento de competências e habilidades entre esses dois grupos, potencializando o que cada um tem de melhor a oferecer. Por fim, aliar os conhecimentos é a melhor estratégia para fugir de um conflito no ambiente profissional e sociocultural.

https://www.youtube.com/watch?v=UswEZuIfuI8 (Conflito de Gerações no Mercado de trabalho: A era dos nativos Digitais | Lina Nakata | TEDxUFU)

Referências

MOTTA, Alda Britto da. A atualidade do conceito de gerações na pesquisa sobre o envelhecimento. Revista Sociedade e Estado, v. 25, n. 2, Brasília, 2010.

TOMIZAKI, Kimi. Entre velhos e jovens: conflitos geracionais e ressentimento. Jornal da USP, São Paulo, 2018.

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