Funções Executivas no TEA: Estratégias para o Dia a Dia
Você já percebeu que algumas crianças no espectro autista têm mais dificuldade em iniciar uma tarefa, lidar com mudanças ou manter o foco? Esses desafios estão diretamente ligados às chamadas funções executivas no TEA — um conjunto de habilidades cognitivas essenciais para planejar, organizar, controlar impulsos, focar e adaptar-se a novas situações.
O que você vai encontrar neste artigo:
Sendo assim, entender como essas funções operam e como podemos desenvolvê-las é um passo fundamental para promover mais inclusão, autonomia e aprendizagem na vida dessas crianças. Vamos entender juntos?
O que são funções executivas no TEA?
As funções executivas regulam nossa atenção, controle de impulsos, planejamento, organização, memória de trabalho e capacidade de adaptação. Por isso, no contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), esses processos estão frequentemente comprometidos, afetando diretamente a forma como a criança se comporta, aprende e interage com o mundo.
Crianças com TEA podem apresentar dificuldades para:
- Esperar sua vez numa brincadeira;
- Planejar a realização de uma tarefa escolar;
- Organizar seus materiais ou pertences;
- Lidar com mudanças na rotina;
- Adaptar-se a novas instruções ou imprevistos;
- Controlar impulsos ou reações emocionais.
Esses comportamentos não são simples “birras” ou “desobediências”, mas sim reflexos de um cérebro que precisa de suporte específico para desenvolver essas habilidades.
Como as funções executivas no TEA afetam a vivência escolar?
Um estudo conduzido por pesquisadoras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), trouxe contribuições importantes para a compreensão das funções executivas no TEA. Intitulado “Funções Executivas e Habilidades Sociais no Espectro Autista: Um Estudo Multicasos”, o artigo foi publicado na revista Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento.
Desse modo, a pesquisa investigou seis crianças com diagnóstico confirmado de TEA, analisando como o desenvolvimento da linguagem verbal influencia diretamente o desempenho em funções executivas, teoria da mente e habilidades sociais.
Os resultados reforçaram a importância de considerar não apenas o nível de inteligência, mas sobretudo o estágio de desenvolvimento da linguagem como um fator determinante para a adaptação escolar e social das crianças no espectro.
Além disso, mesmo crianças com boa inteligência e linguagem fluente ainda enfrentam barreiras no uso prático dessas habilidades no cotidiano escolar, como entender regras sociais, trabalhar em grupo ou adaptar-se a atividades imprevistas.
Ou seja: trabalhar as funções executivas é essencial para que o aluno não apenas aprenda conteúdos, mas consiga se adaptar, se relacionar e ter autonomia no ambiente escolar.
Quais são os principais déficits nas funções executivas no TEA?
Sabendo da importância dessas habilidades para o dia a dia e para o desenvolvimento da criança, especialmente no contexto escolar, é importante conhecer os principais pontos afetados e como eles se manifestam. Desse modo, enumeramos aqui quais habilidades estão mais comprometidas e como essas dificuldades costumam se manifestar no cotidiano:
- Inibição de resposta: dificuldade de esperar, interrompe conversas, age por impulso.
- Memória operacional: esquece instruções, não consegue manter informações em mente para realizar tarefas.
- Controle emocional: reações intensas a frustrações, mudanças ou contrariedades.
- Atenção sustentada: dificuldade de manter foco mesmo em atividades curtas.
- Planejamento e organização: não sabe por onde começar uma atividade, esquece materiais, perde-se em tarefas longas.
- Gerenciamento do tempo: não consegue estimar o tempo de uma tarefa, se perde nos prazos.
- Flexibilidade cognitiva: dificuldade de mudar de ideia ou de plano diante de algo inesperado.
Estratégias práticas para trabalhar funções executivas no TEA
Diante dos desafios que as funções executivas impõem no dia a dia de crianças com TEA, é fundamental que pais, professores e profissionais saibam como intervir de maneira prática e eficiente. Por isso, a seguir, você vai conhecer estratégias baseadas em evidências que podem ser facilmente adaptadas à rotina escolar e familiar — promovendo mais autonomia, organização e bem-estar para essas crianças.
1. Trabalhe a espera e o controle de impulsos
Use cartões visuais com o tempo de espera, combinados com recompensas (sistema de reforço positivo). Dessa forma, você antecipa o que espera da criança na atividade e ainda usa sinais visuais para relembrar isso.
2. Estimule a memória de trabalho
Peça que a criança conte o que aprendeu, dê pequenos recados ou realize atividades que exijam reter informações temporariamente. Nesse sentido, jogos de lógica e tarefas por etapas são ótimos aliados.
3. Ajude no controle emocional
Utilize cartões de emoções, combinados e roteiros de autorregulação. Além disso, ajude a criança a nomear o que sente e oriente o que pode ser feito diante de sentimentos como raiva ou frustração.
4. Melhore o foco e a atenção
Divida tarefas longas em etapas menores e use cronômetros visuais. Dessa forma, você elimina distrações e torna as atividades mais atrativas com recursos visuais ou desafios curtos.
5. Facilite o planejamento
Monte rotinas visuais com passos claros. Por exemplo: ao ensinar a lavar a louça, separe o passo a passo com imagens ou objetos reais. O mesmo vale para tarefas escolares mais longas.
6. Organize o espaço e os materiais
Use etiquetas e cores para indicar onde guardar objetos. Fotos do ambiente arrumado ajudam a criança a visualizar o que é esperado.
7. Gerencie o tempo com clareza
Use ampulhetas, relógios e timers. Marque o início e o fim das atividades. Ajude a criança a visualizar o tempo com calendários e planilhas simples.
8. Desenvolva a flexibilidade cognitiva
Introduza mudanças aos poucos e com aviso prévio. Crie roteiros com alternativas — “Se não tiver aula de música hoje, você pode ir para a biblioteca.” Ensine estratégias para lidar com o inesperado.
Investir nas funções executivas no TEA é promover autonomia e inclusão
Até aqui você pode entender que trabalhar as funções executivas no TEA vai muito além de adaptar conteúdos. Ou seja, é ajudar a criança a lidar com o mundo de forma mais segura, previsível e funcional. E ainda dessa forma garantir que ela consiga se expressar, interagir e aprender com mais independência.
As funções executivas no TEA estão diretamente ligadas ao funcionamento cerebral, por isso, não esqueça que compreender essas conexões é essencial para promover intervenções eficazes, tanto no ambiente escolar quanto clínico.
Além disso, se você deseja aprofundar seus conhecimentos sobre como o cérebro regula o comportamento, a atenção, a linguagem e a aprendizagem, e quer atuar com segurança diante das novas demandas da saúde mental, a Pós-Graduação em Neuropsicologia Clínica da Rhema Neuroeducação é o caminho certo.
Visite também o nosso site, siga-nos no Instagram e acompanhe o nosso canal no YouTube para mais dicas, estratégias e conteúdos exclusivos sobre educação inclusiva e desenvolvimento infantil.
Cada criança é um mundo. Te preparamos para cada uma delas.